16 setembro 2008

A Batata Inglesa


Cheguei em Londres certa de que os 10 anos de estudo de inglês não me deixariam na mão. Acreditava que eu conseguiria me comunicar tranqüilamente. Mas para a minha triste surpresa, ao trocar as primeiras palavras em inglês com um cidadão britânico, não só não entendi a metade do que ele disse, como percebi que a criatura teve que fazer um esforço relativamente grande para me compreender. Frustração total. Me senti uma ignorante completa e minha confiança no inglês foi parar no meu pé. A decepção comigo mesma só foi diminuir quando eu me dei conta de que o problema não era o inglês, mas o conhecido (e lindo) sotaque britânico. Depois de algumas observações, cheguei a conclusões que me ajudaram a incorporar o british accent. Eis algumas:

1) em muitas palavras a letra “r” não é pronunciada. Por exemplo: a palavra “perfect” eles pronunciam “pãfect”, a palavra “four” eles pronunciam “fó”;

2) o “er” no final das palavras é pronunciado com som de “a”. Por exemplo: a palavra “better” é pronunciada “béta”, a palavra “forever” é pronunciada “foréva”;

3) ao contrário do que acontece no inglês americano, a letra “a” é pronunciada com som de “a” mesmo e não com som de “e”. Por exemplo: a palavra “class” se pronuncia “clás”, a palavra “family” se pronuncia “fãmili”.

... ou, para quem quer facilitar, fale como se você estivesse com uma batata na boca. O efeito é bem parecido.


02 setembro 2008

Mind The Gap

Andar no famoso metrô londrino era uma das coisas que eu mais esperava, queria, mas tinha medo de fazer na cidade britânica. Não sei, todos os meus amigos que já haviam morado em Londres falavam e falavam do tal metrô e eu, por mais que me esforçasse, não conseguia me imaginar andando sozinha naquele meio de transporte tão moderno. Sei lá, em Porto Alegre não tem metrô e eu nunca havia andado em um. E toda vez que eu conversava com alguém que comentava como era fácil andar no metrô, eu não conseguia acreditar e tinha certeza, quase que absoluta, de que eu ia demorar muito tempo para poder entender como aquele sistema enigmático funcionava.

Cheguei na Terra da Rainha na tarde do dia 03 de agosto de 2007 e fui de táxi (é claro) até a casa número 101 da queridíssima Duckett Road. Logo que cheguei, e após as devidas apresentações do pessoal que morava na casa, liguei para a Simone (uma guria que na verdade eu nem conhecia mas que uma professora minha tinha dito que ela podia me ajudar em Londres). Enfim, a tal Simone queria me encontrar para me dar umas dicas da cidade e de trabalho. Eu não achei nada ruim, afinal eu precisava mesmo de dicas de alguém que morava em Londres há 2 anos. Foi aí que ela sugeriu de nos encontrarmos na saída da estação de Lancaster Gate. Fiquei super feliz que iria me encontrar com ela, mas também um pouco apreensiva porque se nós iriamos nos encontrar na saída do metrô, isso queria dizer que eu teria que andar de metrô. Tudo bem, pensei eu, afinal eu estava em Londres e sabia que pegar o metrô se transformaria em um hábito corriqueiro para mim, mas até lá teria que enfrentar a primeira vez de andar sozinha.

Depois das informações que o pessoal da casa me deu sobre como me achar dentro da estação, saí em direção à estação de Manor House um pouco preocupada mas muito confiante de que eu não era assim tão retardada e conseguiria fazer o que todo mundo faz na cidade britânica. Cheguei na estação e me concentrei em seguir o fluxo e seguir as placas. Fiquei muito impressionada com a organização do metrô. Tudo muito bonito e com informações detalhadas. Mapas e placas eram o que não faltava. Percebi então que se perder no metrô era algo bastante difícil e me senti um idiota por ter algum dia acreditado que eu não seria capaz de me virar naquele espaço subterrâneo que agora parecia tão simples.

Esperei o metrô chegar, enquanto lia no chão Mind The Gap. Sentei e vi o metrô passar por cada uma das estações. Sempre que o metrô parava em alguma estação éramos informados de onde estávamos e qual seria a próxima parada. Finalmente cheguei na minha estação, desci e mantive o plano de seguir o fluxo. Cheguei na rua, vi o sol e me senti orgulhosa por ter conseguido andar no metrô de Londres sozinha. Já estava me achando a expert em metrôs, toda confiante.

Estava tudo bem até que eu tive que pegar o metrô para voltar para a casa. Quando cheguei na estação de Manor House me deparei com 4 saídas. Oh my God!!! Eu tinha todas as coordenadas de como fazer para ir e voltar de metrô, mas ninguém havia me dito qual das 4 saídas era a certa para chegar em casa. Momentos de pânico. Tentei me lembrar por onde havia entrado, mas não conseguia. Pedi informação para o guardinha, mas a única palavra que consegui entender foi bridge. Oh God, e agora? Decidi arriscar, escolhi uma saída e fui. Andei, andei, andei, nada me parecia familiar, mas continuei andado. Até que eu vi o McDonald’s!!! Ainda bem, sabia que agora eu estava perto de casa. Caminhei mais um pouco, cheguei na rua e entre em casa sã, salva e craque em metrô.